Paul McCartney, blackbird, white wings e assum-preto

Posted on: April 24, 2012, by :

Paul McCartney veio ao Brasil mais uma vez. Um amigo meu, que acompanhou os shows no Recife, teve a sacada: “Além de Blackbird, ele poderia ter tocado também White Wings…”. Para quem não sabe, White Wings é a versão em inglês da famosíssima Asa Branca, sucesso do rei do baião, Luiz Gonzaga (versão aliás, do baiano Raul Seixas). Paul até fez menção a Luiz Gonzaga em seus shows, mas, claro, não tocou White Wings. No entanto, o trocadilho ornito-musical do meu amigo tem razão de ser. As duas músicas, além de excelentes, falam de aves emblemáticas. Vamos aprofundar um pouco mais essa história.
O blackbird (pássaro preto, em inglês), se vivesse no Brasil, fatalmente teria o nome de sabiá. E seria cantado por Tom Jobim, não pelos Beatles. O gênero Turdus inclui cerca de 30 espécies no mundo. O blackbird atende pelo nome científico de Turdus merula, e tem distribuição pela Europa e parte da Ásia. O mais que popular (no Brasil) sabiá-laranjeira é também conhecido como Turdus rufiventris. Ele foi não só o inspirador da dupla Tom e Chico na música que leva seu nome, como também de muitos outros artistas. Uma lista extensa que inclui Gonçalves Dias, com a super parodiada Canção do Exílio, da frase “minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. No entanto, um sabiá mais arredio, ligado a ambientes florestados da Mata Atlântica, é o mais parecido com o blackbird de Paul: o sabiá-una, ou Turdus flavipes. Una, em tupi, é preto. Claro. Aí embaixo você vê os sabiás.

Blackbird (Turdus merula), o muso de Paul. Foto Juan Emilio, CC

 

Sabiá-una (Turdus flavipes), o blackbird da Mata-Atlântica. Foto Rafael Fortes

 

Sabiá-laranjeira – Foto: Zé Edu Camargo

 

No caso de Blackbird, a canção, há diversas versões para a origem da música. Em seu livro The Beatles, a História Por Trás de Todas as Canções, o autor Steve Turner lança a ideia de que há um pano de fundo social na letra. Paul teria elaborado a história pensando na luta pelos direitos dos negros nos EUA, então em plena efervescência.

Também em 1968, só que no Brasil, uma notícia ligava Beatles e Luiz Gonzaga: o grupo poderia gravar White Wings. Quem soltou a bomba foi a revista Veja, logo em sua primeira edição. A história ficou no ar um bom tempo, para diversão do próprio Luiz Gonzaga. Conheça os detalhes no post do ótimo blog Beatles To The People.

Outro sucesso de Luiz Gonzaga, Assum Preto, também poderia estar no set list de sir McCartney. Afinal, é conhecido ainda como graúna (do tupi guira+una, ou… pássaro preto). No entanto, neste caso, o parentesco se dá só no nome e no canto melodioso. O nosso assum-preto (Gnorimopsar chopi) não é um sabiá. Pertence a outra família numerosa, que inclui o chupim (ou vira-bosta) e o guaxe.
Para encerrar a seção curiosidades, a asa-branca da música de Luiz Gonzaga é uma pomba, também conhecida como pombão (Patagioenas picazuro). E não é branca – tem o corpo todo acinzentado, com detalhes brancos nas asas. No cerrado e na caatinga, costuma pousar no alto de galhos secos, ficando bem exposta. Também há um outro tipo de ave com o nome de asa-branca, mas trata-se de uma marreca (a Dendrocygna autumnalis), comum em boa parte do país.

Bom, una, black, white, preto no branco, é isso.

Graúna (Gnorimopsar chopi), o famoso assum-preto. Foto Zé Edu Camargo

 

Pombão (Patagioenas picazuro), a asa-branca de Luiz Gonzaga. Foto Zé Edu Camargo

 

 

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