Pesquisadores de programa de conservação das antas fotografam ave muito rara da Mata Atlântica

Posted on: January 28, 2016, by :
Jacu-estalo da Mata Atlântica capixaba (a subespécie Neomorphus geoffroyi dulcis ) – Foto: Projeto Pró-Tapir

O jacu-estalo é uma lenda viva. Ave muito arredia, vive em trechos densos de mata e dificilmente se deixa notar. Mas quando se fala do jacu-estalo da Mata Atlântica capixaba (a subespécie Neomorphus geoffroyi dulcis ) a associação mais correta é com um pequeno fantasma. Seus registros são raríssimos – e devem ser comemorados, pois provam o bom estado de conservação da floresta. No final do ano passado, um desses encontros com o jacu-estalo aconteceu em Linhares, no norte do Espírito Santo. O fantasminha foi registrado por uma armadilha fotográfica do projeto Pró-Tapir, que trabalha com o estudo e proteção das antas em algumas unidades de conservação locais. Acompanhe agora uma entrevista com a pesquisadora Andressa Gatti sobre esse encontro e o belo projeto desenvolvido pelo Pró-Tapir:

Blog: Qual a sensação de registrar uma espécie tão rara e arredia como o jacu-estalo na Mata Atlântica? Como foi feita esta foto?

Andressa Gatti: É uma sensação indescritível, uma mistura de felicidade, espanto, orgulho e surpresa! Saber que a Mata Atlântica ainda pode abrigar uma espécie tão rara e ameaçada, nos faz acreditar que há esperança e nos torna mais responsáveis por gritar a todos que é preciso parar de agredir nossas matas e todas as espécies que vivem nelas. Ter estado algumas vezes no mesmo local onde o enigmático jacu-estalo foi registrado, é de arrepiar! E mais. Saber que nosso trabalho de conservação com o maior mamífero terrestre brasileiro – a anta – pode ajudar a proteger tantas outras espécies, nos dá ainda mais a certeza que estamos no caminho certo e que realmente vale a pena trabalhar para a conservação das espécies!

E como foi que tivemos a sorte de registrar essa raridade? Nós iniciamos um novo monitoramento com armadilhas fotográficas, no grande bloco florestal Linhares/Sooretama, em janeiro de 2015. Nosso principal objetivo é reunir informações sobre a ecologia da anta, Tapirus terrestris, e de outros mamíferos também ameaçados de extinção, como o queixada (Tayassu pecari) e o cateto (Pecari tajacu). Nossa felicidade é que com esses modernos equipamentos, temos registrado tantas outras espécies da mastofauna e avifauna.

Só fomos entender a verdadeira preciosidade que tínhamos em mãos, quando nossos amigos Gustavo Magnago e Letícia Belgi Bissoli identificaram a espécie para nós. Há um tempo eles nos tinham questionado se não havíamos feito algum registro do jacu-estalo anteriormente. E, finalmente, quando menos esperávamos, lá estava ele! Uma ave que motivou e motiva tantos apaixonados pela ornitologia e observação de aves. E posso dizer que ela motiva também todos nós que trabalhamos pela proteção da nossa biodiversidade.

Anta (Tapirus terrestris) Foto: Gustavo Magnago

Blog: O Projeto Pró-tapir tem como objetivo a conservação das antas em reservas do Espírito Santo. Quais são as condições que a espécie encontra hoje no estado? Quais são os desafios?

Andressa Gatti: A espécie está em perigo de extinção em nosso Estado. Atualmente existem apenas sete áreas naturais protegidas no norte do estado do Espírito Santo onde ainda há a presença da anta. O Pró-Tapir atua em seis dessas áreas. Quatro dessas unidades de conservação estão localizadas nos municípios de Linhares e Sooretama, a Reserva Biológica de Sooretama (RBS), a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Recanto das Antas, a RPPN Mutum-Preto e a Fazenda Cupido & Refúgio (FCR), que em conjunto podem permitir a sobrevivência da espécie, em longo prazo. Contudo, nesses locais ainda ocorrem muitas ameaças que podem resultar no desaparecimento das antas.

O complexo florestal situado em Linhares/Sooretama, uma das três áreas que ainda podem manter populações viáveis da espécie, ainda apresenta muitas ameaças que podem aumentar o risco de extinção das populações locais, além de outras características da região: (1) caça frequente, inclusive na Reserva Biológica de Sooretama; (2) atropelamentos, principalmente na BR-101 que divide a Reserva Biológica de Sooretama; (3) presença de conflitos entre a população humana e as antas, devido à perda econômica que, geralmente, causam aos agricultores; (4) a paisagem da região é única, heterogênea, onde se encontram quatro áreas protegidas inseridas em um mosaico de diferentes agriculturas e configuração espacial.

Um cenário preocupante também ocorre nas Reservas Biológicas Córrego do Veado e Córrego Grande, localizadas no município de Pinheiros e Pedro Canário, respectivamente. Nestas áreas, ainda há a presença da anta, mas a sobrevivência das populações é incerta em longo prazo, uma vez que estão reduzidas e também isoladas.

O “Pró-Tapir: Monitoramento e Proteção das antas da Mata Atlântica Capixaba” propõe a elaboração de um conjunto específico de recomendações para a conservação da anta e das florestas, bem como promover a manutenção das populações desta espécie no Espírito Santo, por meio de pesquisas científicas. O programa possui uma abordagem multidisciplinar sustentada por quatro linhas temáticas gerais: Ecologia, Genética, Saúde Ambiental e Sensibilização/Difusão Científica.

Blog: Como observadores e outros cidadãos podem contribuir com a conservação nesta região tão importante para a Mata Atlântica como um todo? 

Andressa Gatti: Primeiro é preciso que todos saibam da existência dessa região tão importante e que ela é responsável pela manutenção de diversas populações de espécies da fauna e flora da Mata Atlântica capixaba.

Como as áreas onde o Pró-Tapir atua estão próximos a rodovias e estradas, e como a anta e outros animais podem percorrer grandes distâncias, é necessário que os cidadãos respeitem a velocidade nas rodovias, evitando assim que mais indivíduos sejam mortos por atropelamentos. No ano de 2014 e do início de 2015 perdemos três indivíduos de anta, sendo que um deles, uma fêmea, estava prenhe. O risco é altíssimo não só para antas, mas também para tantas outras espécies que habitam aquela região, e obviamente, para os condutores, que podem colocar suas vidas em risco com o impacto do atropelamento de um animal tão grande.

Outra ameaça, a caça, ainda é uma atividade comum na região, mesmo sendo ilegal. O mais crítico é que a caça é uma atividade focada no comércio ilegal de carne, o que torna a atividade algo muito lucrativo para quem caça. É importante que as pessoas parem de comprar carne de caça e que a caça seja erradicada, mas ainda temos uma longa caminhada para que isso, de fato, acabe. Práticas como o desmatamento e queimadas também devem ser evitadas, pois destroem o habitat, ou seja, o espaço onde a espécie vive e se desenvolve.

Difundir essas informações entre todos é o ponto central da história. O principal meio de ajudar na conservação das espécies é fazer a população entender que seus atos podem afetar a sobrevivência dessas espécies direta ou indiretamente. Nós pesquisadores e cientistas não vamos mudar o mundo sozinhos. Precisamos do apoio de pessoas engajadas na proteção da biodiversidade. Então, todos podem ajudar, divulgando e convencendo seus amigos da importância da fauna e flora, apoiando os projetos de conservação, difundindo informações entre pesquisadores de diferentes áreas de atuação. Existem várias formas de contribuir, mas a principal é de se conscientizar que com pequenos atos, como respeitar as leis, ou diminuir a velocidade nas rodovias próximas a áreas protegidas, já faz uma grande diferença.

E sabe o que é mais fascinante? A busca pelo maior mamífero terrestre brasileiro tem nos revelado histórias fantásticas sobre outras espécies que ainda pouco conhecemos. A anta, uma amiga de peso, ajudando na conservação de espécies raras e pequenas como a do jacu-estalo e, ele, por sua vez, só nos mostra o quanto a biodiversidade está conectada!

4 thoughts on “Pesquisadores de programa de conservação das antas fotografam ave muito rara da Mata Atlântica

  1. é muito bom saber que pessoas como a andressa , estão trabalhando para que especies como a anta sejam preservadas. morei no mato grosso e ví pessoas que caçam esses animais.somente preservando e, conscientisando essas pessoas conseguiremos diminuir essa matança.

  2. Como é tao importante existir projetos assim como esse,e com profissionais da area q realmente se preocupam com a preservaçao e a conservaçao das especies principalmente as quais estao em extinçao ;parabens pelo feito e pelo projeto e q tragam um projeto como este aq na regiao do vale do ribeira,pois aq ainda existem matança do tapirus, infelismente.Eu estou com um projeto de ecoturismo nesta regiao em fase de conclusao e estou incluindo como atividade tbem a pesquisa cientifica e a conservaçao das especies.;Vale lembrar q na minha regiao foi relatada em uma area proxima daq de mata atlantica por camera trepin uma anta albina pelo fotografo Luciano Candizany e nesta oprtunidade eu estava acompanhamdo-o como guia.Finalizando se ouver interese em nos ajudar neste projeto o convite esta feito e sera uma honra recebe-los.aguardo resposta.abços

  3. Preservar é um dever de todos, mas é preciso cumprimento das leis para que os animais vivam mais tempo, sou contra o desmatamento sem controle, só vão sentir a falta quando não puderem resgatar os pobres animais, por causa da ignorancia, ambição dos seres humanos, vaidade.

  4. Parabéns, também fiquei muito feliz de ver esta ave e todo seu trabalho .
    Fico feliz ao ver pessoas se interessando pela preservação com paixão, tudo de bom para vocês. Felicidades.

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