Campos nebulares no Parque Estadual da Serra do Mar, N\u00facleo Curucutu<\/figcaption><\/figure>\nS\u00e3o Paulo dos Campos de Piratininga. S\u00e3o Bernardo da Borda do Campo. Os nomes antigos de duas cidades da Grande S\u00e3o Paulo d\u00e3o a dica da vegeta\u00e7\u00e3o que cobria boa parte da \u00e1rea antes da ocupa\u00e7\u00e3o intensiva: os campos, extens\u00f5es de vegeta\u00e7\u00e3o baixa, entremeados por brejos e cap\u00f5es de mata, principalmente \u00e0 beira de c\u00f3rregos e rios. Esse tipo de forma\u00e7\u00e3o quase desapareceu da grande S\u00e3o Paulo. Quase. Porque ainda sobrevive um trecho de campos, chamados de campos nebulares (por causa da neblina que boa parte do dia, em qualquer \u00e9poca do ano, pode cobrir a regi\u00e3o) dentro do munic\u00edpio de S\u00e3o Paulo. Fica no pouco conhecido N\u00facleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, em Marsilac, no extremo da Zona Sul da cidade, divisa com os munic\u00edpios de S\u00e3o Vicente e Itanha\u00e9m.<\/p>\n
“Imagina, a gente poderia estar andando pela avenida Paulista no s\u00e9culo XVI, talvez a paisagem fosse essa”, diz o bi\u00f3logo Fabio Schunck. Ele faz um monitoramento das aves no N\u00facleo Curucutu desde 2007, parte de seu plano de mestrado, apoiado pelo pesquisador Luis Fabio Silveira, do Museu de Zoologia da USP. Todos os anos na mesma data, Schunck arma 20 redes de neblina para capturar aves nos campos nebulares. Sua inten\u00e7\u00e3o \u00e9 anilhar uma esp\u00e9cie migrat\u00f3ria, a Elaenia chilensis<\/em>, ou guaracava-de-crista-branca. “Elas passam por aqui sempre na mesma data, capturo os indiv\u00edduos, anoto as caracter\u00edsticas biol\u00f3gicas, anilho, fotografo e solto. Depois de poucos dias, elas desaparecem. Ainda n\u00e3o recapturei nenhum exemplar anilhado, mas j\u00e1 anilhei 75 indiv\u00edduos. Qualquer hora algum pesquisador captura uma destas guaracavas em outra localidade da Am\u00e9rica do Sul. Os poucos estudos dispon\u00edveis mostram que elas migram do Chile, subindo pela regi\u00e3o leste do Brasil at\u00e9 o nordeste, passando pela Caatinga, Cerrado, Amaz\u00f4nia e retornando ao Chile pelos Andes, para se reproduzir. Mas os estudos ainda s\u00e3o inconclusivos”, ele diz.<\/p>\nAl\u00e9m das guaracavas, muitas outras esp\u00e9cies caem nas redes de neblina, desde pequenos beija-flores at\u00e9 aves maiores, como andorinh\u00f5es, arapongas e ara\u00e7aris. O N\u00facleo Curucutu est\u00e1 entre as \u00e1reas com a maior diversidade de aves da Serra do Mar, s\u00e3o cerca de 350 esp\u00e9cies registradas at\u00e9 o momento. O parque tem uma trilha aberta \u00e0 visita\u00e7\u00e3o, que leva a um mirante de onde, em dias claros, pode-se ver as cidades de Itanha\u00e9m, Monguagu\u00e1 e Peru\u00edbe, al\u00e9m da Serra da Jureia, a Ilha Queimada Grande e a Laje de Santos. “Em 2006, nessa trilha, avistamos o raro apuim-de-costas-pretas (Touit melanonotus<\/em>), esp\u00e9cie que era pouco conhecida na \u00e9poca\u201d, conta Schunck. O que torna o parque n\u00e3o s\u00f3 interessante para quem quer conhecer a paisagem original de boa parte da cidade, como tamb\u00e9m para os observadores de aves.<\/p>\n <\/p>\n