Aves alienígenas do Ibirapuera
Posted on: June 9, 2015, by : Ze Edu CamargoDepois do monumental A Capital da Solidão, o escritor Roberto Pompeu de Toledo lança agora outro título imperdível para quem vive em (viveu em, ou gosta de) São Paulo : A Capital da Vertigem. Como o próprio subtítulo diz, a obra trata da história da cidade de 1900 a 1954. Passa pelo início da industrialização, mostra a influência dos imigrantes, descreve eventos marcantes, como a Semana de Arte de 22 e a Revolução de 1924. E acaba no ano do IV Centenário, quando é inaugurado oficialmente o Parque do Ibirapuera (embora a área já fosse reconhecida há tempos como um parque).
O Ibirapuera, assim como a maior parte da cidade, é originalmente uma área de Mata Atlântica. No entanto, assim como a cidade recebeu inúmeros imigrantes (de outros países e de outras regiões do país) ao longo do tempo, também o parque abriga espécies alienígenas, que não ocorriam ali originalmente. Algumas delas hoje são atrações para os observadores, como o cardeal-do-nordeste, ou galo-de-campina (Paroaria dominicana). Diz a lenda que ele foi trazido de seu hábitat natural (a caatinga), por um prefeito, encantado por suas cores, iguais à da bandeira paulista. Certas espécies do Ibira vieram de continentes distantes, trazidas em navios, como o onipresente – e europeu por origem – pardal (Passer domesticus) e o africano bico-de-lacre (Estrilda astrild). E também há as que aqui chegaram na esteira do desmatamento, que ampliou sua área de ocorrência original, como a lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta) e o corrupião (Icterus jamacaii). Por fim, algumas espécies provavelmente foram introduzidas sem querer, ao escapar do cativeiro. É o caso do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), hoje bem fácil de ver nas palmeiras do parque.
Certas aves encontradas no Ibirapuera também são migrantes no sentido biológico da palavra: estão ali só de passagem em determinada época do ano. Ou porque estão se deslocando dentro da própria Mata Atlântica ou porque vão e vêm em viagens bem mais longas, às vezes até entre hemisférios. Sorte dos observadores, que de tempos em tempos podem encontrar verdadeiras joias raras circulando entre skatistas e bikers. Em 2015, por exemplo, o martinho (Chloroceryle aenea) foi avistado na área, assim como o azulinho (Cyanoloxia glaucocaerulea). Os lagos do parque também estão cheios de aves aquáticas, algumas delas exóticas, outras bem brasileiras (e não é impossível que apareçam algumas visitantes do extremo norte na primavera ou no outono). Portanto, se você é paulistano (de nascença ou de adoção, tanto faz), #ficadica: corre pro Ibira.
O Amazona aestiva não é endêmico do Sudeste? Vejo casais dessas aves por toda São Paulo, voando e gralhando, se alimentando nas árvores.
Já observei até uma curicaca no Ibira.
Muito legal. Pena que da última vez fomos barradas por conta das máquinas profissinais.