O incrível caso dos ninhos azuis
Posted on: October 21, 2015, by : Ze Edu CamargoO japu (também conhecido como guaxo em algumas regiões) é uma ave comum em muitos estados do Brasil, com exceção de uma parte do Nordeste e do Sul. Da família dos xexéus e iraúnas (a Icteridae) ele é um engenhoso construtor e um bicho sociável. Os japus costumam eleger uma mesma árvore para formar a “colônia” de ninhos, que ficam pendurados como brincos nos galhos mais expostos – concentrados, eles têm proteção mútua contra predadores. O ninho é normalmente feito com fibras naturais entrelaçadas de maneira engenhosa, formando uma espécie de bolsa, com entrada por cima.
Na Ilha do Algodoal (PA), no entanto, os japus decidiram inovar. Ali eles fazem ninhos no manguezal, à beira de canais que se ligam com o oceano. E usam como matéria-prima uma fibra abundante na região, mas que não tem nada de natural: linhas de náilon de antigas cordas de redes e boias de navegação que vêm dar no mangue trazidas pela maré. O efeito visual é impressionante. Como a maioria das cordas usadas por pescadores ali é azul, os ninhos acabam tomando essa cor, fazendo um contraste interessante com o verde das folhas no manguezal. O uso de materiais estranhos, no entanto, não é desconhecido na ciência. Acompanhe uma pequena entrevista com o ornitólogo Luciano Lima, pesquisador do Observatório de Aves – Instituto Butantan.
Blog: A mudança de hábitos alimentares e de comportamento em função de alterações no ambiente é comum entre as aves? É algo esperado encontrar situações como essa dos japus em Algodoal?
Luciano Lima: A capacidade de se adaptar a mudanças no ambiente e/ou novos recursos, no caso material para construção do ninho, é o que permite que algumas espécies ocorram, ou mesmo aumentem sua população, em ambientes alterados, como áreas urbanas. Comportamentos inovadores estão sujeito ao “olhar” atento da seleção natural. Dessa forma, embora não seja raridade observar uma determinada espécie fazendo algo “inesperado”, a probabilidade que esse comportamento seja fixado, ou seja, passe a fazer parte daquela população, ou mesmo espécie, é geralmente remota.
Bog: O uso de uma fibra artificial nos ninhos pode afetar de alguma maneira a população?
Luciano Lima: Por se tratar de um comportamento diretamente relacionado com uma parte importante do ciclo de vida da espécie, no caso sua reprodução, o uso das fibras artificiais poderia sim afetar positivamente, ou negativamente essa população. Para responder essa pergunta seria necessário um estudo mais detalhado. Mas podemos assumir pelo menos três hipóteses. 1) que as fibras artificiais trazem alguma vantagem para espécie deixando, por exemplo, os ninhos mais resistentes ao clima ou aos predadores; 2) que elas representam uma desvantagem, por exemplo atraindo mais predadores por conta de sua coloração menos discreta ou é possível ainda que as fibras esquentem mais o que poderia representar um problema no calor amazônico; e 3) que as fibras artificiais seriam equivalentes às fibras naturais e não representariam qualquer vantagem ou desvantagem significativa.
Blog: Há outros casos curiosos de “inovação” no comportamento das aves?
Luciano Lima: Existem outros casos interessantes relacionados com a construção de ninhos com materiais pouco convencionais. Pessoalmente já observei no Parque Nacional do Itatiaia alguns ninhos de guaxe (Cacicus haemorrhous) construídos também com fibra artificial, mas de coloração verde. Alguns dos casos mais inusitados de construção de ninho com materiais artificiais por aves brasileiras envolvem alguns parentes de um habilidoso “pedreiro”, o joão-de-barro (família Furnariidae). Existem reportados na literatura científica alguns ninhos de espécies como o curutié (Certhiaxis cinnamomeus) e o joão-teneném (Synallaxis spixi) construídos inteiramente com pedaços de arame. O grande ornitólogo Helmut Sick, comenta em seu livro “Ornitologia Brasileira”, sobre um ninho de joão-teneném encontrado na cidade do Rio de Janeiro “construído em boa parte de arame (inclusive farpado) que as aves catavam em fábrica próxima”, cujo peso aproximado chegava a 15kg!
Ótimo relato, tema impressionante. Dá a medida da poluição plástica no mundo de forma dramática. Boa, Zé Edu.
Opa, poluição pelo plástico, quis dizer. Se bem que , neste caso, a poluição acaba sendo plástica mesmo, em certa medida. Uma plasticidade trágica, digamos.
Estive há menos de duas semanas em Algodoal, vi esse espécie de pássaro por lá, mas não percebi os ninhos azuis. Não é o caso de achar bonito, pois é fruto da intromissão de um agente poluidor, não biodegradável, mas, não podemos negar que o efeito estético, ficou interessante.
Olha, aqui na minha casa em Coxim/MS, eu tenho um cachorro da raça Akita branco, e como de costume ele troca vigorosamente de pelo 3X por ano, e nesse período ficam vários tufos rolando pelo chão. Eu já vi algumas vezes os sábias pegando esses tufos pra fazer ninho. Mas nunca vi um ninho de sabia branco hehe… Quem sabe um dia, daí vou tirar foto.
Já comentei nos espaços anteriores… Ana Lourenço da Rosa – presidente da ONG a OSEC Socioambiental – acessem gilmaferreiraat.wordpress.com Socioambiental – TOCANTINS, bRASIL
“Japodeis a pátria livre ver contente a mãe gentil “or amor a bandeira “tremedeira danada quando quer saber o restante agora falando serio e as participações demandas …
Aqui no Acre ele é conhecido como Japo
Boa tarde.
Um maravilhoso espécime. Mais lindo que ele só seus ninhos. Eu já havia visto ninhos de guaxo aqui no Paraná de coloração marrom claro, ou seja, de gravetos de secos.
Que tristeza!
Já vi filhotes de maritacas morrerem estrangulados e sofrerem com patas amputadas e deformadas, pois ao nascerem em ninhos construídos com fios plásticos se enroscam nesses fios que são altamente resistentes e cortantes.
É importante ter um monitoramento dos filhotes para se observar possíveis danos às ninhadas.
Na verdade, os japus estão fazendo um belo trabalho de sustentabilidade.
O nome é japiin!
Alguns Japiins colocam ovos no ninho da graúna para serem chocados, por isso q surgiu a frase: parece filho de japiin!
Eu moro no Pará!
O nome é japiin!!
É muito triste ver isto acontecendo. A natureza tem tantos recursos para as aves fazerem seus ninhos. Deveria ser proibido que as pessoas que usam esse material deixem-no jogado – isso é lixo.
Olha aí. Até as aves estão aprendendo a reciclar! Escolhem exatamente os materiais que chamamos de recicláveis e que têm via útil mais longa que fibra natural. Bem, isso significa que o ninho vai durar mais tempo sem ele ter que reconstruir. Esses animaizinhos estão no topo da evolução. Muito bom.