Época de migração
Posted on: May 3, 2016, by : Ze Edu CamargoA frente fria na virada de abril para maio pegou muita gente de calça curta – literalmente. No sul, no sudeste, no centro-oeste e até no sul da Amazônia o frio chegou chegando a bordo de uma nova frente, destronando o calorão. Com a mudança, já se percebe um movimento migratório de aves que começaram a se deslocar em busca de novas paragens – com mais alimento ou com um clima mais ameno. Assim, algumas espécies fazem aparições inesperadas em locais onde não são vistas com frequência. “ A diminuição na duração dos dias e a queda da temperatura com a chegada do outono são o sinal que muitas espécies de aves utilizam para iniciar suas jornadas migratórias rumo ao norte. Um detalhe não muito conhecido é que, diferente dos rapinantes e outras aves de maior porte, muitos passeriformes migram principalmente a noite, descansando e se “reabastecendo” durante o dia em pontos de parada ao longo da rota. Se um sabiá-ferreiro está migrando do Rio Grande do Sul para o leste da Amazônia e com o raiar do dia está sobrevoando a cidade de São Paulo ele irá descer em alguma área mais arborizada e passar um ou poucos dias ali, “caindo na estrada” de novo com o cair da noite. Ontem mesmo um sabiá-ferreiro passou o dia forrageando em frente a minha janela no Instituto Butantan e hoje de manhã nem sinal dele, que deve estar agora em algum lugar no oeste de Minas Gerais ou sul de Goiás. Isso é muito mais que legal, isso é incrível!”, diz Luciano Lima, ornitólogo do Observatório de Aves – Instituto Butantan.
No último fim de semana de abril, Luciano e o ornitólogo Marco Silva conduziram mais de 50 observadores durante o #vempassarinhar, uma atividade que ocorre uma vez por mês na mata do Instituto Butantan, em São Paulo, mas que agora passa a se revezar com outros parque públicos da capital paulista, numa parceria do Butantan com o Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes) e a ONG SAVE Brasil. Desta vez, o escolhido foi o Parque do Ibirapuera, na Zona Sul. Entre as aves residentes (como o mergulhão-caçador e o socozinho), os observadores puderam encontrar espécies que estão só de passagem, como uma fêmea de azulinho (Cyanoloxia glaucocaerulea). Segundo Luciano Lima “o azulinho é uma das muitas espécies de aves brasileiras que fazem movimentos migratórios e cuja as rotas e a área de invernada são praticamente desconhecidos. Nos Estados Unidos, registros enviados por observadores para a plataforma eBird estão ajudando a desvendar muitos mistérios sobre migração de aves. No Brasil, além do eBird, temos o WikiAves, uma fonte valiosíssima de informações que é prontamente acessível e que está revolucionando nosso conhecimento sobre a avifauna brasileira. Nesse momento, por exemplo, estamos trabalhando em um artigo sobre movimento migratório do urutau, utilizando basicamente informações presentes no WikiAves”.
Entender melhor como se dá essa migração é um fator essencial para a conservação. E os observadores podem dar uma ajuda valiosa aos pesquisadores, simplesmente registrando as aves que viram em plataformas como o eBird ou táxeus – ou mesmo submetendo fotos e sons ao WikiAves. Colabore também!
Congratulação a este grupo de pessoas que dedicam parte de seu espaço tempo à namorar com os pássaros. Eu sou um apaixonado por eles. Moro em Belém, e por prazer de viver a bela vida acordo as 5 horas da manhã. No silêncio deste horário fico atento ao canto dos pássaros na sequência do horário que vão acordando. Explico: normalmente, o primeiro a cantar é o “chechéo”. Um pássaro com um canto breve e sequenciado, em curtas notas repetitivas. É um pequeno pássaro solitário, de penugem cinza claro. Na sequência, acorda o “Bem-Te-Vi”, com seu canto alto e repetitivo que lembra seu nome. Sua penugem de cores fortes, prevalesse o amarelo forte, com detalhes na cabeça de cor preta e pintas brancas. Segue, o sabiá laranjeira, com seu canto que encanta em melodia orquestrada. É um pássaro de porte médio, com uma penugem cinza de tons escuro. Por vezes, quando chego à margem do rio Guamá, para iniciar meu treino na arte de remar, ao longe, na ilha do Combú, escuto o canto da Saracura. E, raramente, já ouvi o apito da “Matinta-Pereira” : um pássaro que por sua raridade foi transformado em uma lenda, do misticismo amazônico. E que o povo da floresta associa a um Mal agouro para a pessoa que o escuta cantar. A Natureza nos ensina tudo, inclusive a viver a bela vida em harmonia com a energia universal, que nos permeia no espaço temporal. Do Diamante Ttt 13.