Aves da cidade em uma pesquisa empolgante – e você pode ajudar!
Posted on: February 21, 2017, by : adminMesmo para quem vive numa grande cidade do Sul ou do Sudeste é fácil notar o vai-e-vem de aves migratórias ao longo ano. Muitas espécies invadem nossos parques e praças durante o verão – e virtualmente desaparecem no inverno. São aves que fazem a migração austral, fugindo para o norte quando o frio chega com força. Karlla Barbosa, uma pesquisadora brasileira, tenta agora definir se há padrões nesta migração de algumas espécies, como a tesourinha (Tyrannus savana), o sabiá-poca (Turdus amaurochalinus) e (com mais foco) o bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus). E ela usa alguns métodos criativos no projeto Aves da Cidade, como um boneco do bem-te-vi-rajado para atrair mais espécimes para a marcação, além de se basear também em dados coletados pelos observadores de aves – e você pode ajudar. Descubra os detalhes do projeto e como participar na entrevista com a dra. Karlla Barbosa abaixo.
Blog: Qual o objetivo principal do projeto? Como surgiu a ideia de trabalhar com a migração dos tiranídeos e sabiás, e por que focar no bem-te-vi-rajado?
O objetivo principal é estudar e entender se o comportamento reprodutivo e a ecologia das aves migratórias diferem entre áreas urbanas e rurais na Mata Atlântica brasileira, usando como referência espécies das famílias Tyrannidae (suiriri, tesourinha, bem-te-vi-rajado e peitica) e Turdidae (sabiás). A ideia de trabalhar com essas espécies surgiu porque sempre pensei que existe tanto foco nas espécies ameaçadas, mas esquecemos dessas espécies tão comuns que usam nossos parques urbanos e ainda se reproduzem neles. Além disso, essas espécies surgem e desaparecem em determinadas épocas do ano e as chamamos de migratórias; no entanto, não sabemos para onde elas vão quando somem e o que acontece quando elas voltam. Será que quando voltam de “férias” (tecnicamente chamado de período de invernada ou repouso reprodutivo) voltam para o mesmo local que consideram sua “casa”? As áreas urbanas são ambientes mais dinâmicos que as florestas em termos estruturais, então quando essas espécies voltarem podem encontrar um prédio no caminho, ou a árvore morta que era usada de ninho pode não estar mais lá, pois foi retirada por questões urbanísticas, etc.
O bem-te-vi-rajado, uma das espécies selecionadas para o estudo, é uma espécie comum (analises estatísticas pedem “n” suficientes e espécies comuns nos fornecem isso) e apesar disso não sabemos nada da sua rota migratória, território ou mesmo preferências de habitat. Me parece uma espécie muito boa como modelo para testar qual o nível máximo de urbanização suportável para aves migratórias, pois, além de tudo, usa ocos de árvores para fazer os ninhos e, portanto, precisa de árvores relativamente grandes para nidificar.
Através de dados do eBird é possível notar que o bem-te-vi-rajado desaparece em determinada época do ano de São Paulo, por exemplo. Esses são dados interessantes, pois são mais de 8.000 observadores ativos no eBird apenas em SP. Se nenhum observador registra a espécie em determinada época é porque, muito provavelmente, ela deva migrar, nesse caso talvez para o nordeste ou norte do país. Agora, para saber qual a rota migratória, e para onde eles realmente vão, eu pretendo colocar geolocalizador em alguns indivíduos capturados e que irão nos permitir saber por onde esses indivíduos de SP passaram as “férias”.
Nos EUA e em alguns países da Europa é muito comum encontrarmos projetos que envolvam a população na coleta de dados que geram ciência. No entanto, no Brasil ainda estamos aprendendo a lidar com essa ferramenta tão útil e importante que é a Ciência Cidadã. No meu caso preciso coletar informações de ninhos, mas percebi que se os observadores me contassem um pouco mais sobre os ninhos que encontram, isso me traria uma riqueza de dados enorme. Por conta da enorme biodiversidade do nosso pais e a alta demanda de bons pesquisadores, contarmos com a colaboração da população para a geração de informações importantes para a conservação das espécies é algo formidável. É como se multiplicássemos o poder de coletar dados.
No caso especifico do meu projeto, quando um observador encontra um ninho de uma das espécies Bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus), Peitica (Empidonomus varius), Sabiá-una (Turdus flavipes), Sabiá-poca (Turdus amaurochalinus), Tesourinha (Tyrannus savana), Suiriri (Tyrannus melancholicus), basta entrar no site https://avesdacidade.
Quando comecei a pensar em capturar indivíduos de bem-te-vi-rajado para anilhamento, muitos pesquisadores me falaram que seria muito difícil, pois eles habitam o estrato médio e o dossel da mata e, embora alguns desçam para estratos mais baixos após o playback, na maioria das vezes não descem o suficiente que permitam a sua captura em rede de sub-bosque. Eu comprovei isso logo na primeira tentativa! Então, mesmo aumentando a altura das redes, pensei que ainda poderíamos ter algo a mais para atrair os indivíduos, além do Ipod e caixinha de playback. Nesse momento tive a ideia de criar um fantoche que parecesse com o bem-te-vi-rajado e que pudesse ajudar na atração dos indivíduos. Nós então criamos o primeiro boneco, feito de biscuit e pintado com guache, colocado pousado sobre um galho. Durante as saídas de campo para captura, posicionamos o boneco sobre uma longa haste, e juntamente com os playbacks da vocalização da espécie, ele tem se mostrado muito eficiente na atração de indivíduos de bem-te-vi-rajado. Alguns indivíduos chegam a se aproximar, curiosos, e outros até fazem voos rasantes sobre o boneco. Tem sido um trabalho muito divertido, acima de tudo. E daqui uns anos espero ter dados suficientes para contribuir para o conhecimento dessa espécie tão bacana. Comum, mas ainda tão pouco conhecida.
Boa noite.
Boa essa inciativa.
Notei que nesse ano, aqui no Parque Bariguí – Curitiba, temos um número maior de Suiriris nas não observei nenhum bem-te-vi rajado nem bem-te-vi pirata.
Hoje mesmo, 23/02, observei uns 5 ou 6 Suiriris. o que não era comum em anos anteriores, quando eles apareciam em menor número.
Outro detalhe que me chama a atenção, no mesmo parque, até 2014 apareciam vários casais de Caneleiros de chapéu preto, que nidificavam em alguns locais do parque, o que não aconteceu em 2016 e 2017.
Jacuaçus estão à todo vapor no parque.
Contei uns 5 filhotes nascidos aqui.
Os pé vermelhos também estão com vários filhotes, em especial na lagoa que era habitada pelo Jacaré do Parque, o qual sumiu.
Vou observando e te informo.
Abraços.
Muito bom, João Henrique, muito obrigado! Não esqueça de submeter as suas observações ao site da Dra. Karlla, o endereço é https://avesdacidade.wordpress.com/ Grande abraço!